Monday 29 January 2007

ANGELUS ( Quo vadis ? )


« Nesta curva tão terna e lancinante, que vai ser - que já é! - o teu desaparecimento... digo-te adeus...»
Sabes?... eu vi a tua partida que ainda não aconteceu. Mas sei que estando aqui já partiste. O etéreo era pouco para ti, anjo criador de ilusões, anjo conselheiro, velho sábio do ensino, druida das palavras, mestre do conhecimento. Na minha queda abrupta a certeza da vilania do orgulho, da tirania de uma lâmina impiedosa e da torpe fraqueza de não escolher um caminho. Certo ou errado, um caminho. Era fácil, meu velho... não havia um caminho errado porque ambos convergiam nas margens do rio da vida onde Caronte não cobrava a passagem...


Mas tu não caíste... tu desceste graciosamente com a serenidade que te caracteriza. Contemplo-te agora, na encruzilhada onde ainda me encontro, vendo-te desaparecer aos poucos no caminho que trilhaste. E quase que jurava que já oiço as águas...

Ergo a espada e ajoelho-me agora, anjo. Sim, estou a abençoar a tua caminhada.

Até sempre, Anjo Novalis.

Friday 26 January 2007

Nada a recear



« A India prepara-se para investir em força no mercado português. »




Meus amigos, não se preocupem...


São rosas, senhor... são rosas!


Tuesday 23 January 2007

Prometo não falar de amor...


«No-one on earth could feel like this.I'm thrown and overblown with bliss.There must be an angel Playing with my heart.I walk into an empty room And suddenly my heart goes "boom"! It's an orchestra of angels And they're playing with my heart.
(Must be talking to an angel)

Regrido, agora. Até chegar a ela. Aos seus braços desnudos e protectores... á primeira carne, á primeira posse, á primeira entrega..

Eu tremia. Ela sorria. Despia-a com o olhar, olhar de animal selvagem, prestes a devorar a sua presa. O seu olhar era diferente... era meigo, de enlevo... era cálido. Dispensava o seu olhar, dispensava o calor que dele emanava... já estava febril... as nossas linguas iniciaram o estranho paso doble, numa louca vertigem de sentimentos em que a saliva abundava, dominadora. Nesse estranho bailado, sorvia-lhe a alma... a minha impetuosidade transformava-me num devorador de pecados. Limpava-a, lambia-a, mordiscava-a, arranhava-a...

Soube então como é possivel fazer de uma adaga uma espada. Espada que se erguia e que voltava a empunhar. Com a mesma ferocidade dos Tempos Belos. Com um desejo diferente... espada que a dominava entre as espáduas. Corri-lhe o corpo de poro a poro, de pólo a pólo... senti o seu seio, ancorei na enseada do seu colo. Ela arfava e separou herculeamente as colunas de Gibraltar... a água correu livre e o terreno era agora navegável. Avancei e penetrei em águas que antes calmas se agitavam agora revoltosas. Maremotos de emoções... estava consumada a posse. Veio a entrega. Trouxeram-na até nós os gemidos, os murmurios, as loucas palavras proibidas. Era Vida que corria solta em mim. Era seiva que provinha livre dela. Senti as asas que me cresciam novamente, dilacerando-me as costas... que tolice... eram as suas unhas a gravar em mim um poema de dor e prazer... depois o espasmo, o desmaio súbito, a explosão. Magnificat... invictus era novamente...

Encanto quebrado com o som que saiu dos seus lábios trémulos... as pálpebras adormecidas não poderiam mentir... e ouvi nitidamente:
- Amo-te.... amo-te...

Abandonei-a assim... naquele estado de louca inconsciência, naquele tépido sono, naquele suave sonho... abandonei-a porque um pensamento invadiu a minha alma: « eu não sei o que é o amor...».

E uma voz do passado ecoou triunfante na minha memória, fazendo-me soluçar:
- E nunca o saberás!

Wednesday 17 January 2007

A queda de um anjo


Recordo-me insistentemente dos tempos felizes. Viviamos com a Luz. Era o nosso abrigo, a nossa alimentação, a nossa essência... quando senti a atracção pela escuridão?... ignoro-o.. era a lâmina dourada da Luz e competia-me realizar os seus desejos com cega obediência. Devastei Sodoma e aniquilei Gomorra a seu pedido... com um prazer quase semelhante ao orgasmo humano destrui a torre da injúria... conhecem-na como Babbel... mas creio ter sido em Sodoma que conheci a escuridão... que me senti atraido por ela... pela carne....

A minha queda foi abrupta e tão esmagadoramente simples. Entreguei a lâmina dourada, vi-me desprovido de asas e condenado a vaguear por este buraco imundo a que chamam Terra. Outrora fui um dos Maiores entre o Povo Belo. Agora era um ignóbil nómada e a cruz que carrego até ser invocado chama-se desejo. Não foram terriveis esses tempos em que somente a profunda nostalgia da companhia tranquila da Luz me perturbava. Naveguei... viajei até aos confins mais recônditos do vosso mundo... fiz amor com Nefertiti... bebi pérolas em vinagre com Cleópatra... dancei Strauss em Viena com Maria Antonieta... afoguei-me nos vossos prazeres até á saciedade.
Vi um pássaro de fogo emergir na Suméria, vi Baden-Baden, Bergen-Belsen, vi Nagasaki, Hiroshima... e então soube-o. O meu lugar tinha sido ocupado... a Luz encontrara outra lâmina dourada.. e o seu instinto era mais arrasador que o meu...

Sinto muito por vós... e continuarei a acender um cigarro a cada explosão nuclear, fazendo amor com o fogo-fátuo que criaram... para meu supremo deleite.

Friday 12 January 2007

Genesis-Revolução


« Só sei que nada sei ».

« Pois eu, nem isso sei ».


Nem sei o porquê de estar aqui. O castigo é injusto quando se ignora o crime... estou sem estar. Viajo para lá constantemente. Ágil, leve, e novamente alado... mas isso é quando fecho os olhos, quando a minha respiração abranda o ritmo louco da patética condição de humano.


Afasto-me deles porque não lhes pertenço. E fecho os olhos para que me voltem a crescer as asas e a promessa de um perdão para um crime desconhecido... mas tão sentido. E tão sem sentido.


Não me leiam agora, que já durmo... e estou prestes a voar. Silêncio...