Tuesday 26 June 2007

Ana



Uma promessa de vida

Cobro-te esta promessa. Agora. Ameaçaste-me de morte, dando-me uma promessa de vida. Vive para todos... mas é de mim que sai este cuspo para ti. É de mim que sai o escarro que marcará o teu corpo inerte. Sou eu que amaldiçoarei as pragas que gentilmente transformaste em sorrisos. Sou eu que preciso de ti... sou eu. Sou eu que não concebo ver-te nouta vida, sou eu. Sou eu, sou eu.. a promessa de vida é tua, é tua... e expectante estou eu. Quem aguarda sou eu. Sou eu!!

O que fizeste não sei.. não sei...
Mas posso dizer-te o que fiz: já lutei. Queres que lute por ti? Queres ver-me de elmo e armadura? Ah, FORYOU, eu colocava as esporas no meu peito para que alguém me impelisse a correr... Disparate... a voar!

E agora? Sim, maldita... e agora? Ameaçaste-me de morte e não o esqueço. Fizeste-me uma promessa de vida que jamais deixar-te-ei esquecer!

E agora?... Sim, e agora?... agora dá-me a mão, menina perdida... o maldito sou eu. E só um demónio poderá recusar-te o inferno...

Do Inferno

Não feches os olhos. Observa... almas e amor, mas sobretudo furor.
Observa: Um passo que as grilhetas não permitem mais...
Observa: Barcos..
Observa: Barcos a arder...
Observa: Barcos a arder carregados de sorrisos...
Observa: Barcos a arder carregados de sorrisos e todos eles para ti. FORYOU.

De Nós.

De nós nada sei. Sou cego. Mas juro-te que sonhei com barcos a arder. E com sorrisos. E com uma promessa de vida.

Minha menina perdida...
Sonhei, sim.
Mas é uma promessa de vida!
« Don't give up'
Cause you have friends
Don't give up
You're not the only one
Don't give up
No reason to be ashamed
Don't give up
You still have us
Don't give up now
We're proud of who you are
Don't give up
You know it's never been easy
Don't give up'Cause I believe there's a place
There's a place where we belong ... »
FORYOU *

Monday 18 June 2007

Ícaro



Atraía-me aquela Luz imensa, resplandecente, anéis de fogo, promessas de alianças entre mim, um simples e patético Ícaro e um deus maior e eterno, um gigante etéreo, um monstro de chamas com a lingua incandescente que ameaçava lamber-me as feridas da alma.. só naquela forja de fúria teria enfim a cicatriz de uma vida vã, alimentada com sonhos e perdida em desejos... e o apelo de me erguer e voar... e o apelo de me erguer e levitar... ah, o apelo...

Do fogo ás chamas, labaredas de amor. Levitar-avançar. Erguer-me e voar.

Atraía-me aquela Luz imensa, amante envergonhado, que me obrigava a fechar os olhos só de a contemplar.. feria-me a vista de tão brilhante, feria-me a alma de tão distante.. pudesse eu, num efémero instante, perder a visão para a abraçar... e o apelo de me erguer e levitar. Voar. Para a alcançar.

Labaredas de amor de uma alma em fogo que constantemente chamas. Levitar. Avançar.

São as minhas mãos desajeitadas, humanas, calejadas, suadas de tão unidas em preces incontidas, em credos incrédulos, em súplicas e rezas.. se me prezas, apressa-me... inspiras-me quando me velas e de velas a cera, a cera que unirei ao meu dorso fatigado, ao meu torso fustigado, ao meu espirito imolado, e só assim me elevarei...

Amor de labaredas plenas de incertezas. Do fogo ás chamas. Elevar-levitar.

Da viagem nada posso recordar... nem as pessoas minusculas, nem os telhados de colmo que contemplava no alto, do alto do meu ser. Fixava-me em ti e quanto mais me aproximava, mais o ar me sufocava e me fazia recuar.. a tua Luz alentava-me e inequivocamente chamavas-me... quase que jurava que abrias os braços para me receber no peito, nesse que seria o primeiro e ultimo abraço, tão desejado que seria mortal. Deixei de ver pessoas minusculas e telhados de colmo, deixei de sentir o ar que sufocava, e mergulhei na escuridão do espaço sideral, tremendo de desejo e temendo a promessa do abraço que seria mortal. Subitamente o primeiro beijo, que rasgou o negro que me envolvia.. o primeiro toque que me incendiou o rosto... e a entrega final num espasmo fatal, a posse prometida, a cera derretida... era teu minha querida... era teu. Minha querida. Do fogo ás chamas labaredas de amor. Meu amor.. meu amor.
« Ó Ícaro esboçado!, quem soubesse
em vez deste saber de coisas vagas,
com que cera devera unir-te as asas
- para que Sol nenhum as desfizesse! »

Wednesday 6 June 2007

Do Anjo Guerreiro - II


Na torre mais alta


Na torre mais alta com vista para o fosso e que impelia a voar ela estava mergulhada num sono profundo, mais profundo que o fosso que a vigiava e eu, que a velava, não a queria acordar... ouvia brandos murmúrios, era ela a sonhar... e o seu ventre incandescente, gigante de vida presente, só me fazia soluçar. Seria menino ou menina, seria rei ou rainha, seria meu, seria minha, assim conseguisse eu regressar, a esta torre mais alta com vista para o fosso profundo e que impelia a voar.. mas despedia-me agora, era enfim chegada a hora de partir para o fim do mundo com a certeza de não mais voltar...

( Sei que vou ver o unicórnio que me assombra, sei que a espada que me pesa verterá sangue, sei que nunca mais voltarei a sorrir... sem asas, sem sorriso, com a minha vida a crescer naquele ventre, vida que crescerá sem mim... mais uma batalha por travar, mais uma vida por errar... preparem-me o cavalo, tenho um unicórnio á minha espera... e hoje é um bom dia para morrer. Dia de tempestade. )

Batalha

Em solo sagrado, rodeado de demónios, onde as bátegas infernais limpavam o sangue de faces descarnadas formando rios vermelhos de loucura, criando loucos onde havia formas serenas de ternura, onde os gritos de raiva e horror mutilavam os sentidos e aquele torpe estertor de lâminas a tocarem-se na fúria cega de invadirem um corpo, trespassarem a carne e roubarem a alma ao desconhecido oponente... estava em casa, finalmente, e tinha um unicórnio á minha espera. Apressemo-nos, rápido, rápido... não o façamos esperar... Mais uma investida... mais morte a rodear-me...

( A terra ficou escura... e nessa escuridão ouvia apenas um galope, tão suave que seria um trote, uma passada graciosa, como se fosse possivel um cavalo levitar... uma imagem de luz rompeu triunfante a escuridão e vi um corno branco despedaçar a névoa envolvente que me acariciava docemente e impelia-me a descansar.. entrou e saiu a perversa imagem que me aguardava... um climax de sons ensurdecia-me... estava caído. Novamente caído.. ferido de morte. Ferido de vida. Pudesse eu abraçar a morte e dizer-lhe suavemente « nunca mais »... o meu estandarte elevava-se, alto e mais alto, os meus guerreiros elevavam a voz, alto e mais alto, proferindo o grito eterno de constantemente repetido a meus ouvidos: « Vitória... Vitória.. Vitória... » )


Aproximou-se um cavaleiro do meu corpo inerte e ajoelhando-se a meu lado sussurrou-me: « É uma menina, Messire... é uma menina... exigem saber o seu nome..»
- Vitória...

( A minha face distendeu-se enquanto uma lágrima se aventurava pelo meu rosto e fazia amor com o sangue que a consumia... senti os lábios afastarem-se... sensação desconhecida... sensação estranha... sensação reconhecida... menina... rainha... minha... Vitória. Um unicórnio que passava, de corno branco e manto azul, de espada flamejante e olhar distante forçou-me a abandonar o meu corpo... )

O rapaz arrastava os corpos para a vala comum... chorava contemplando aqueles rostos desfigurados e os horriveis esgares de verdadeiro horror... só um sorria, abertamente, a face distendida num sorriso... e que sorriso... porque sorria o Messire?...