Thursday 29 November 2007

Recado

Agora preciso de ti. Não... preciso que te recordes... sim, preciso de ti. Mais que nunca tenho a estúpida necessidade das tuas ingratas memórias. É-me urgente que te lembres quando eras terra, ar, água e fogo. Mais que nunca tenho a estúpida necessidade que te lembres... mais que quatro elementos, éramos um mundo por explorar. Lembras-te?

FOGO

Eras assim. Eras ave em chamas. E teimavas em ser ave para alcançar um anjo. Talvez o etéreo te concedesse esse dom... atingir o inatingivel, sobrevoar a Terra do Nunca sem chamuscares as tuas penas alvas. Será possivel queimar o fogo? Será possivel atear uma chama no mais louco - e bailarino - incêndio? Maldita... que morras em combustão! Ah.. mas ainda não.

AR

Era assim.. por momentos Siroco que te arrepiava. Lembrava-te talvez o deserto e terras distantes. Era brisa suave ou rajadas pujantes, era o sopro de um deus ausente que te impelia a avançar... Mas tu estática sorrias... e lançavas uma fita que se elevava no ar. Fosse eu humano e talvez corresse para a apanhar. Mas, minha querida, sou apenas um elemento. Mais um mendigo que te estende a mão. E por isso te sopro, suavemente ao ouvido: Não, não... ainda não.

ÁGUA

Eras assim... quanto mais revolta mais calma me transmitias. Elevavas-te e eu sorria. Enlevavas-me e ninguém diria que tais águas num crescendo, perante o nosso lamento, de manifesta inundação... apenas eram um prenúncio, apenas nos sussurravam: Não.. ainda não.

TERRA

É altura de a ela descermos. Não como aventureiros intrépidos, mas como resignados vagabundos. Desde os confins dos mundos que tu, ave, teimas em me assombrar. E do não e não, talvez ainda não, direi sim... também eu sou alado e finalmente viste a batalha que jamais conseguirás vencer. Não é nos céus, é na Terra, que acabarás por perecer!

Eis o testemunho de um vagabundo resignado. Com o facto de, como tu, ser alado. É esta a minha ameaça, é este o meu recado.

Friday 23 November 2007

Alma gémea

Naquela noite fúnebre, naquela noite tão feliz, revelei-te e revelei o mundo que estava assim inerte, que estava assim proscrito, para toda a eternidade. Foi assim que te confessei que serias para todo o sempre minha se fosses aquela outra metade...

Mas como podes ser a metade do que eu sofro?... Mas poderás ser a metade da minha ilusão?
Eu contigo não me iludo e nunca ( mas nunca ) serás metade da minha alma.
E pedes-me calma..
E sorris, agora...
Por ora é hora de partir, enquanto podes sorrir.
Para um dia voltar com as tuas lágrimas de dor
Sentidas, no mais estúpido amor, que não poderás devassar.
Estranha metade a que te promete a minha presença para a preencher....

Chega de poesia. Abomino-a, sabias? Abomino a palavra « amor ». Aqui me tens como o anjo insurrecto, aqui me tens como o homem que te encosta brutalmente contra a parede - fria - que te esmaga avidamente numa qualquer cama - vazia - que faz dos teus poros o seu solo e o seu querer. Que mais ter? Em quem mais crer? Nada será tão ávido e sempre estaremos cálidos enquanto eu te pertencer...

Ah... nunca serás a minha metade...

Mas só contigo concebo viver, minha dor. E sem falar de amor digo que é para toda a eternidade.