Ainda no tempo das lágrimas, o menino era feliz. Nunca pensou que um carrinho de rolamentos em miniatura ( sem a caixa de madeira gamada na mercearia da Gertrudes ), atingisse tal velocidade. Realmente.. um sapato tosco, quatro rodinhas... e voava!! O pior era quando o Sr. Vovô lhe largava a mão... ainda voava sim, mas contra a parede!
- Vô... o carro não tem travão!
- São patins, menino...
Talvez tenha começado aí a viragem. Ou a viagem. Ou a vertigem. A parede começou a ser amiga e conselheira. Como não haveria de ser, se o menino já lhe tinha tocado, esbarrado, empurrado, rasgado... até amante seria, decerto. Se não falássemos num menino.
- Um dia, vais jogar no Benfica.
- Não quero vô... serei sempre do Benfica mas o Realista é do Porto. Não posso jogar contra o Realista.
- Das duas uma: ou o Realista vai jogar para o Benfica ou vais ser melhor que ele!
O Realista ( e para o menino, o melhor ainda hoje ) nunca jogou no Benfica.
O menino, que hoje é um pouco mais realista, nunca foi melhor que o grande Carlos Realista. Mas gostava de ter tido o velhote na bancada, quando jogava pelo Benfica. Mas se tivesse o velhote na bancada, não olharia para o tecto da pavilhão sempre que marcava. Olhava para a bancada, via o velhote e pronto. Olhava para ele. O Sr. Vovô que era mais realista e não gostava do Realista ( por ser do Porto ), nunca viu o menino com aquela camisola vermelha a marcar um golo e a olhar absorto para o tecto do pavilhão...
( Porque não olhar para as traves que sustentam um tecto, se ao menino recordavam apenas a trave que foi o seu tecto... )
Sunday, 15 November 2009
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