Friday 4 May 2007

Das mil e uma vidas - Um arcanjo

Eu fui aos bosques porque queria viver deliberadamente, enfrentar somente os fatos essenciais da vida, e ver se eu não podia aprender o que ela tinha a me ensinar, e não, quando viesse a morrer, descobrir que não havia vivido. Não queria viver o que não fosse vida, viver é tão bom; nem queria praticar resignação, a menos que fosse realmente necessário. Eu queria viver profundamente e sorver toda a essência da vida, viver violenta e espartanamente de forma a derrotar tudo que não fosse vida, e reduzí-la aos seus mais simples termos, e, se isso se provasse pobre, porque então alcançar a sua miséria completa e genuína, e anunciar esta miséria ao mundo; ou se fosse sublime, conhecer de experiência, e ter condições de dar um relato fiel disto em minha próxima excursão...

Henry Thoreau

Queria que fosse sublime mas resigno-me com a miséria de nojo e negação que é o teu rosto que nunca vi e só assim o imagino, na liberdade poética da minha escrita, nas letras acutilantes que fluem livres neste pequeno monitor electrónico. É aqui que te entregas, é aqui que enfim te possuo.. se verificar o cripto das tuas palavras verei apenas arabescos monossilábicos que é o ser que tu és.. já vivo na miséria, já sou miserável, não me resigno a uma vida de miséria. Despojado de asas vou para os bosques. E será sublime, porque é meu... e será terrivel porque sou eu... e será pungente porque nada me pertencerá. Nem eu. Nem eu...

Partes, Arcanjo?... Queres agora as asas, Anjo Caído? Vem... já expiaste o suficiente.

Das mil e uma vidas de um Arcanjo recordarei apenas os sorrisos que serei obrigado a deixar cair na noite gélida do esquecimento. Vou.