Tuesday 25 September 2007

O teu pedido ( ou o som do silêncio )


De Fatima nada sei. Gestos opacos e sons de acordes, tudo faz parte de um imaginário consentido. Fatima- Lacrima, enevoando os sentidos, toldando - muito ao de leve.. muito ao de leve.. - a visão. Fatima, Lacrima, são elas que a toldam, são elas que a moldam, quando caiem assim, rebeldes, convulsas, com valsas, frémito em crescendo, compassos vigorosos com passos timidos mas seguros.

Compassos melódicos nos meus passos silenciosos... mas isso é o som do silêncio.. Ousem gritar para melhor o absorver... em silêncio, em silêncio... porque de Lacrima nada sei..


Somos assim um do outro há dois mil anos ou quase saboreando o tesouro da eternidade do auge.


Na loucura consciente de um erotismo latente erra, vagabunda, a palavra proibida que só no silêncio é compreendida. É no som do silêncio que a loba tem a sua metamorfose lambendo as feridas de uma alma adormecida, e talvez perdida.. e talvez perdida... e a loucura - sublime - em que exprime o desejo com a ferocidade e a ânsia de um orgasmo inalcançável, perceptivel e que aflora a pele.. a pele da louca, demente, não mente.. é a pele de loba a cair quando anoitece, é a mulher faminta que aparece, saciando a voracidade com palavras de amor, de desejo, de tão arrepiada aquece, num imenso fogo de Santelmo - derradeira candeia dos amantes, derradeira promessa de naufrágio - de tão extasiada funde, crava, grava, arranha, esgravata, corta, fere.. porque não é loba é já mulher...

Aqui fica o testemunho da Revelação. Para os vindouros, foi este o fim que nos coube: de Fatima nada sei. Mas absorto fico com a loucura consciente do som do silêncio.
Antes o fim que nos coube, se é que fim pode chamar-se, a este abraço em que somos um só astro, uma só estátua, uma só chama, um só tronco por toda a eternidade... mais livres porque um do outro, um ao outro acorrentados... ninguém nos venha em socorro, ninguém nos deslace os braços...