Bem vinda. Esta mão que te aperta é suave como vês. Mas ainda vigorosa. O dedo que vai acariciando a palma da tua mão pertenceu a artistas, a guerreiros, a fadistas e poetas, pertenceu ao vento e á água cálida de um lago ao luar. O braço que se estende, apontando-te a porta, é esguio. Magro e cicatrizado. Marcado. Cada veia saliente diz-te apenas o que não queres ouvir... já não há sangue quente que as possa percorrer. Frio. Gélido. Capaz de congelar as águas cálidas de um lago ao luar. Os olhos... os olhos que te olham não são meus. São tristes e sem expressão. Gastos, gastos. Em rasgos de visões violentas e promessas incumpridas do que assistiram sem viver. Como rapaz do tambor que fui, impedido de combater. São a ideia concreta de que lá longe existe uma aldeia com um lago com águas cálidas. Lidas as mágoas, não lides com elas. Desvia o olhar, estrangeira, que o meu pode queimar. Embora triste e sem expressão. É fogo-fátuo e ilusão.. não te enganes.. são apenas sonhos que vislumbras. Mas não me olhes nos olhos. Olha-me a face... falta um sorriso, bem sei. Pensei que sabias a minha história. Sabes... são apenas rumores. As pessoas que te digam que um dia eu sorri, enganaram-te. Olha para os meus lábios, agora... não são lábios de alguém feliz, pois não? Como esperas ver esta curva efémera formar-se e desaparecer? Ainda assim, toca-lhes. Estão frios. Gélidos. Não, estrangeira. Nunca os verás rasgar-se, num lento movimento, e formarem - por um momento - um esboço de sorriso.Preciso deles, agora. Retira o teu dedo. Deixa-me falar estrangeira.
És bem vinda, se quiseres entrar nesta porta. Mas há algo que para mim não importa, mas que te vejo a pensar, talvez confusa e assustada. E sabes?... Tens razão. Já não tenho coração. Ficou algures na lua cheia, ou no cheiro a terra molhada daquela aldeia, ficou no lago de águas cálidas, ficou no velho porão, ficou soterrado na terra que mineiro algum escavará, ficou no velho Pomarão.
Se ainda assim queres entrar, és bem vinda estrangeira. Mas se olhares agora para os meus olhos verás que te avisam... « não..».
Monday, 16 November 2009
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5 comments:
É bom voltar a ver-te por aqui!
Beijinho
Outra coisa nao esperava...
Passo por cá de quando em quando, em memória dos bons velhos tempos e é por ela que deixo um abraço.
(Sorrio)
... Mas eu sei que vais esquecendo um sorriso, aqui e ali, de quando em vez.
Beijos
:))
já vi q regressas te há algum tempo, vou te lendo pq escreves mui bem, mas hoje gostava de te dizer q n acredito q n saibas sorrir.
xinhinhus pa tu da lua
gosto muito ,como se exprime
cumprimentos
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