Monday, 9 April 2007

Pinta-me...


Há quanto tempo tinhas a minha vida nas tuas mãos?

Recordo-me de tentar chegar a ti, com todas as minhas forças. Tu autista, tu trapezista, não o permitias. Dançavas com a minha ilusão, aproximavas-te para ser vista, afastavas-te quando sentias um olhar cansado de tanto te olhar. Baloiçavas, criança... e eu empurrava o baloiço inconcientemente.. ou talvez gostasse de observar a elasticidade das tuas coxas, os movimentos compassados das tuas pernas... para a frente, para trás... nunca viste o meu rosto, lívido de ternura, pungente de amor... eu apenas empurrava o baloiço... não, nunca me viste chorar por ti.

Nunca viste o meu rosto. Tu já viste o meu rosto. És o meu rosto. No meu rosto vês apenas as emoções que me provocas. Toma o pincel.. pinta-o agora. Como queres o meu rosto?.. Esboça um sorriso ao esboçares o meu sorriso, ilusionista. ( É assim que me queres? A sorrir?... mas o meu sorriso é desencantado, bruxa.. cuidado com o que pintas. Por ser tela em branco posso desejar como hei-de ser preenchido. Posso? Posso... poderei?...)

Cobre a tela, apaga a luz e deixa-me descansar. Vais pensar na pintura que sou. E vais pintá-la. E vais ser fiel ao retrato que manténs ( oh, suave presunção ) na tua cabeça.

Vai ser um quadro de amor... vai ser um quadro de amor...

« Terror de te amar num sitio tão frágil como o mundo
mal de te amar neste lugar de imperfeição
onde tudo nos quebra e emudece
onde tudo nos mente e nos separa. »