Tuesday, 3 April 2007

Melodia para uma rosa selvagem


« Porque era um Deus que passava embalado pela melodia da flauta que tocava »

Porque era apenas um homem, embalado pelas dúvidas, desejando as certezas. Caminhava aos tropeções ou levitava na vertigem voraz que o aniquilava.. mas sempre respondera ao apelo. E nunca fugia da vontade indómita de batalhar. Perdido já estava, só lhe restava vencê-la.

Porque era apenas uma mulher e as cicatrizes que não tinha no corpo mantinha-as na alma. Estranho castelo aquele, inexpugnável e eternamente invicto, defendido somente pela dor nostálgica de momentos perdidos e jamais esquecidos...

Porque eram apenas um homem e uma mulher consumiram-se pela carne, amaram-se pele a pele, perderam-se em olhares.. faziam alianças enquanto desfaziam temores, erguiam cúpulas de sonhos enquando derrubavam pudores e eram cúmplices em actos ignóbeis e proibidos em que adoravam deuses pagãos. Ajoelhados, cumpriam a sua homenagem com saliva, com gemidos, com palavras incompreensiveis proferidas com a respiração alterada, com unhas a entranharem-se na pele, marcando novos caminhos por desbravar, desbravando novos caminhos por trilhar, trilhando vontades eremitas de desejo, desejando.. desejando... desejando.

Porque era um Deus que passava, embalado pela melodia de uma Deusa que o tocara.